domingo, 8 de fevereiro de 2009

Nada será como antes...

Depois da família Obama, nada mais será como antes.
Passaram a ser referência de estilo.
Estilo de vida, de competência, de elegânciia.
É a sinalização dos novos tempos.
Tempos de crise, e crise quer dizer mudança.
Tempos de racionalização com classe.
Tempos de humanização (tio, sogra, mãe, presentes nos grandes momentos).
Tempos de respeito (salários iguais para sexos diferentes na mesma função).
Tempos de aceitaçaõ das diferenças(brancos, negros, amarelos, todos iguais)
Tempos de rigor (adisciplina em casa (e casa para eles quer dizer Casa Branca!)vai continuar a mesma, a meninas vão continuar indo para a cama às 20:30 e vão continuar arrumando o quarto).
Um exemplo a ser seguido por muitos do terceiro mundo que consideram o trabalho uma ofensa.
E a elegância na posse?
Bonito para uns, feio para outros, o que importa é a mensagem que ficou: as roupas que Michelle Obama usava tinham movimento, tinham força, tinham personalidade: quem aparecia era quem usava, era criatura,não a criadora.
Esta por sinal desconhecida o suficiente para ninguém lembrar o nome, competente o suficiente para fazer a leitura que o momento exigia e de origem históricamente (cubana) forte o suficiente para mostrar que as mudanças finalmente aconteceram.
Suas filhas também estão na lista das mais elegantes, as roupas da posse foram compradas num magazine não tão conhecido (as luvas da Michelle também).
Estamos no momento do suficiente: daquilo que é necessário ou desejado mas não ostentado, da valorização do bom do bonito e do possível.
Michelle Obama deverá ser capa da Vogue Americana.
Elegância é alma.

Fatima Gadioli Cipolla

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

SHOW DA MADONNA

Ai gente... tenho até vergonha de dizer, já arrumei algumas inimizades por aí por expressar essa tão difícil opinião: NÃO GOSTEI DO SHOW DA MADONNA.
Sou/era fã desde que eu me lembro de existir nesse planeta, acho que tenho todos os DVDs de todos os shows da Madonna em casa, sempre achei a Madonna um ícone. O que foi que aconteceu? Entenda: ir no show da Madonna era um sonho de criança.
Apesar de odiar Aché Music, tenho que reconhecer, essa turma dá de 10 a zero na Madonna, que não canta nada (playback gente!)e dança pouco, e pior, fez um quebra-cabeça de todos os outros shows e montou esse, o Sticky & Sweet Tour. Só repeteco, esteira rolante, cama redonda na frente do palco girando numa música lenta, fileira de dançarinos caindo como dominó depois de um soquinho da cantora, cantores espanhóis pra La Isla Bonita, os mesmos passinhos coreografados, entre outros dejavus.
A moça pega a guitarra, toca 2 acordes e todo mundo grita. Larga essa guitarra perua!
O figurino tava feio, e minha mãe me falou que ela arrematou 180 pares de meia arrastão no e-bay, olha sinceramente, eu dispensaria a meia arrastão. Hum... meia arrastão... what a shock!
Pra terminar também dispensaria o mega cotoco que ela distribuiu pra platéia com as duas mãos...??? Rebelde, né? Ual.
E se eu fosse ela teria ido no ensaio da Mangueira no sábado a noite, antes do show, ver como se dança e como se batuca. Esse sim valeu!
É isso, a Madonna não me pega mais não. Um dia, talvez, ela tenha sido revolucionária, ou talvez fosse eu que era bobinha demais. Sei lá.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Olá,

o Blog da Cipolla está sub-utilizado, sabemos disso, e eu tenho tanta coisa pra dizer... mas não sou nada Web, esse é o problema. Não tenho Orkut, por exemplo. Uso MSN pra trabalhar e tenho algusn poucos conhecidos na minha lista.
Hoje resolvi tomar uma atitude e colocar pra fora o que eu tenho pra dizer sobre moda, comportamento, luxo, lixo, enfim, o que vier. Trabalho com isso, pesquiso, leio, crio, as idéias surgem e eu adoro escrever.
Começo postando minhas colunas de Moda e Comportamento pra revista Público A, tenho 6 colunas escritas ao longo do último ano, estão todas aí, na sua mão, leia, sinta-se em casa pra fazer comentários. Eu adoro uma polêmica, por isso não se acanhe.
Espero alimentar esse espaço com curiosidades gostosas de se ler. Peço ajuda ao resto da familia Cipolla: Fatima, Newton, Cassiano, vocês bem que poderiam escrever sobre: comportamento do consumidor e styling de moda, saúde-esporte-squash, sacadas publicitárias (nessa ordem), que tal?

coluna Moda e Comportamento, revista Público A, 1a. Edição, set/2007

Podemos falar várias coisas da MODA e sua indústria bilionária, a começar: existem mais produtos de vestuário no mundo que toda a humanidade precisa comprar, daí a necessidade da moda andar rápido, pra vc achar tudo velho logo e comprar mais, consumir mais. Outro dia um amigo me perguntou de onde vem essa “coisa” de uma hora se usar calça de boca justa, outra hora de boca larga. Vem daí. Da necessidade de fazer as pessoas consumirem.

A moda funciona assim: se glamurizamos a calça skinny neste inverno, vamos ter que propor algo novo, pra todas as pessoas que consumiram a skinny sentirem necessidade de comprar de novo na próxima estação. Assim a gente consegue alimentar todas as milhares de costureiras espalhadas mundo a fora, e também girar o estoque das tecelagens, que não param de produzir com seus teatres automatizados até o último instante, e também os plantadores de algodão e a indústria química com suas fibras e resinas novas, e por aí vai...

É a moda tem sua função social. Mas tem lá seus paradoxos também. O mundo vive uma tal valorização do ter ao extremo. Consumir, possuir, pertencer, parece que isso tudo faz o ser humano chegar mais perto da felicidade. Claro que estamos diante de uma falácia. Mas na prática os que possuem dominam os despossuídos. Moda como sinônimo de status, de pertença a determinado grupo, onde parecer, mesmo que seja algo que vc não é toma uam importância enorme na vida das pessoas.

Ugly, né? É. Precisamos respirar e pensar nisso tudo. O mercado de luxo é fascinante e nojento na mesma intensidade. Pessoas cobertas de labels, das cuecas, às calças jeans... pra quê? 64 pares de sapato no guarda-roupa, pra quê?

Mas eu prefiro entender a moda como a arte do século. Sempre falo pros que me conhecem, se for seu caso, vai desculpando aí, há 500 anos atrás os artistas famosos no mundo inteiro eram os arquitetos, os pintores, os escultores. O mundo inteiro, ocidente, oriente, qualquer classe social, raça, sexo, sabia de Michelangelo Buonarote, Leonardo Da Vinci, Rafael, Caravaggio. E hj em dia? Quem são os arquitetos-escultores-pintores world-wild-famous?

Eu digo pra vc, meu bem, são eles: Armani, Gabrielle Channel, Dolce Gabanna, Saint Loren, e por aí vai. Eles sim, que arquitetam roupas, pintam estampas, esculpem modelagens são os artistas famosos do nosso tempo. É o ser humano na sua extrema valorização. Culto ao corpo, dieta, yoga, drenagem, choque de queratina, e tudo o mais que ajudar vc a se perpetuar neste planeta por mais tempo, com a aparência mais jovem possível. É nessa toada que a moda permeia todos as instancias do nosso ser.

É através da roupa que nos expressamos, Oscar Wild dizia que só os tolos não julgam pela aparência. E é exatamente quando tudo está na moda e o que vc precisa é ter estilo e escolher dentro de um leque infinito de opções o que vai usar, que vc expressa quem é, qual a sua, do quê está a fim e como quer ser visto pelos demais. Experimente ler as pessoas pela roupa que elas estão usando. Eu não digo pra vc valorizar aquela mocinha com uam bolsa de US$5.000,00. Mas entenda, ela usa essa bolsa porque quer passar um recado. Quer mostrar que tem acesso, que pertence a elite. Isso pra ela, naquele momento, parece importante.

Moda pode ser ditadura se vc deixar, mas paras os mais antenados tem servido como libertação, como auto-afirmação, como protesto, ou ainda como homenagem. Pense também na felicidade que dá se olhar no espelho e se sentir belo. É muito bom! E a roupita ajuda.

Pros que querem saber mais sobre moda, sem preconceitos, venham comigo, vamos navegar um pouco neste mundo cheio de alegrias, cores, e beleza, e vamos até dar risada dos exageros, das afetações, lembrando que embora role alguns vacilos, e alguns vacilões habitem nosso planeta fashion, isso não é tudo. O mundo da moda é por demais maravilhoso e belo!

Fale comigo: bianca@cipollajeans.com.br
Até a próxima! Bianca G. Cipolla

moda e arquitetura

(coluna de Moda e Comportamento, publicada na revista Público A, 2a. Edição)

Resumo: A cidade e seu guarda-roupa, que relação isso tem? Porque os prédios ao nosso redor influenciam a maneira de nos vestir? Nós temos baixa estima em relação ao lugar de onde viemos. Irmãos Campanas, reis do designe genuinamente brasileiro, sucesso primeiro no exterior.

Talvez, você leitor, nunca tenha se dado conta da forma como sua cidade (prédios, cores e ritmos) interfere na maneira que você se veste. Pra me fazer entender vou usar dois exemplos drásticos do nosso país: São Paulo e Rio de Janeiro, me refiro as capitais em ambos os casos. Até porque o interior, como em todos os outros estados (talvez no mundo) é um universo paralelo, com outros hábitos, outra moda, outros códigos, outras gírias, outro sotaque.
Falando em São Paulo e Rio de Janeiro fica fácil perceber como a praia interfere na maneira despojada do carioca se vestir, assim como a metrópole que São Paulo é interfere na vida dos paulistanos, deixando os guarda-roupas dos que vivem naquela cidade bem mais cinza, clássico e austero.
Outro dia estava eu num samba, quando um amigo que mora em Sampa comentou a maneira como as pessoas por lá são “montadas” e depois como a cidade é dura. Verdade. A paulistana, o paulistano, é sofisticado na essência. Os escarpins de bicos longuíssimos, os terninhos, muito preto, muito preto e branco... É a cara très sofistiquê deles, ham?
E deveria ser diferente? Acho que não, São Paulo é cinza, uma selva de pedra, um ritmo frenético, não dá pra relaxar. Também não dá pra usar um figurino relax, dá? Assim como o Rio jamais combinaria com terno cinza mescla de tweed, ou twin-set. O Rio tem muitas cores, muitos humores, muita mistura, vai que o colorido da moda carioca é conseqüência.
O movimento Folk (palavra que remete a folclore e mistura de etnias) da moda surgiu não na África, mas em cidades cosmolitas, multi-culturais, multi-raciais. Cidades assim geralmente vêm acompanhadas de um China Town, um bairro de Indianos, outro de latinos, outra vizinhança de nativos: europeus, descendentes de europeus, enfim... Essas cidades possuem uma energia mixada que reflete na arquitetura e na maneira de vestir.
Diz o estilista, historiador e professor de moda João Braga que “a criação de roupas também bebe na fonte dos fundamentos da beleza...” Estilo, teoricamente é entendido através de três pontos de vista: estilo pessoal, ou do artista, estilo da época, estilo de um povo. Ele completa: “As pessoas se cobriam com folhas, depois passaram a usar peles de animais, estes materiais também eram usados pra criar espaços de maior permanência e proteção. Detalhes arquitetônicos estão presentes nas roupas em todas as épocas. Nas túnicas helênicas, o tecido forma nervuras semelhantes as das colunas Gregas. Podemos observar reflexos da arquitetura gótica e seus arcos ogivais nas armaduras. Os excessos visuais do Barroco e do Rococó também estão presentes nas indumentárias deste período, e por aí vai.” E na Revolução Industrial, cita Braga, os industrias que não podiam sair com uma chaminé na cabeça, símbolo do dinheiro e do progresso, usavam as cartolas, além da calça comprida, chamada de calça-chaminé.
Para este século observamos a moda e a arquitetura passar por hibridismos estilísticos, pluralidade de formas, aspectos de desconstrução visual, personalização e referências de luxo e requinte.
Preciso citar os irmãos Campanas, designers de móveis, jóias e Melissas, eles dizem que só foram valorizados no Brasil após se consagrarem na Europa. Nós Brasileiros, principalmente nós Nordestinos, sofremos de baixa estima em relação a nossa cidadania. Já dizia minha mãe: um povo sem direitos é também um povo sem deveres. Não temos segurança, não temos calçadas, não temos praças e parques públicos, pra não falar dos problemas realmente sérios como fome, analfabetismo, corrupção, péssima distribuição de renda, falta de justiça, empreguismos público. Como podemos valorizar as roupas produzidas na nossa cidade? Como podemos achar que uma marca local pode valer igual ou mais que uma marca importada, se tudo que é nosso parece ser sofrido, penoso e pobre. Por que mesmo vamos nos orgulhar do que é nosso?
Lina Bo Bardi era uma voz pregando no deserto quando dizia, em meados do século passado, que o designe e a arquitetura deveriam beber na cultura brasileira. Hoje as coisas melhoraram muito pro nosso lado. Já temos identidade, competência, e destaque mundial, em casos isolados, mas temos. Começamos, afinal de contas.

Bianca Gadioli Cipolla

... e o Rio de Janeiro... Hummm... continua lindo!

(coluna de Moda e Comportamento, publicada na revista Público A, 4a. edição)

Resumo: a moda do carioca, o astral do Rio, a magia desse lugar. O que é que eles têm que a gente não tem? Que bossa é essa? Que samba é esse?

Sábado de carnaval, feijoada ótima no lindo apartamento de uma amiga que mora no Alto Leblon, turma animada, carnaval começando, vista pro mar, pro Cristo, trovoadas no horizonte e de repente estou eu a conversar com José Ricardo, professor de história da arte, curador das obras do Roberto Marinho, uma persona!
Papo vai, papo vem, começamos a falar da moda carioca. Aquilo que era só um bate-papo e não uma entrevista (pena! Poderia estar com um gravador na mão...) se transforma numa análise interessante sobre a moda do lugar.
O Rio é uma cidade onde as pessoas se impõem pelo estilo, e não pelo dinheiro ou pelo poder. O estilo pessoal é o bem mais precioso do carioca, e assim ele inventa e catalisa novas modas que são copiadas pelo mundo a fora. Usar chinela havaiana com calça jeans, o carioca inventou isso há um tempo atrás.
Cidades como Rio e Londres criam, outras como São Paulo e Milão, copiam. Copiam rápido porque o dinheiro e a informação circulam freneticamente. As coisas chegam e são absorvidas. Mas raramente produzidas lá, nas ruas, pelo próprio orgulho de ser quem se é, de morar onde se mora, da beleza do lugar, da raiz, da identidade, da auto-suficiência de quem não quer estar em outro lugar. Nesses lugares que absorvem e copiam o que o mundo oferece a vida transcorre com barreiras: o dinheiro, a influencia, o poder, os contatos.
Já no Rio a vida acontece de maneira mais democrática. As pessoas andam a pé naquelas calçadas lindas, largas, arborizadas, coloridas, no meio daquele cenário maravilhoso, se misturam, jogam peteca, se conhecem, circulam, se interessam uma pelas outras pelo ES-TI-LO que cada uma apresenta, se fazendo interessante ou não para os demais. Isso vem do DNA, vem do ser, e não do estar, por exemplo: estar rico, estar influente, estar poderoso.
Adoro a moda carioca, vou pro Rio, encho a mala e faço uma promessa: em Fortaleza não vou tirar minha sandália de dedo, nem estas roupas leves e fresquinhas com cara de praia.
Isso não acontece, chego aqui e logo estou de salto-alto nestas ruas sem calçada, perdendo a virola em cada esquina. A gente vive ao lado da praia, a cidade é quente, esturricante, estamos embaixo da linha do equador, a cidade é uma das mais claras do mundo, perdendo apenas pra algum lugar no deserto do Saara. Mas de alguma forma não nos vestimos de maneira descompromissada. Nos empacotamos demais e estamos sempre over dressed.
Adoro – não as roupas, mas as idéias - da Farm. Tem uma Farm na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, que separa pras clientes vips cadeira e guarda-sol. Que boa idéia!
Adoro – sim, as roupas – da Maria Bonita Extra. Tudo que meninas como eu querem usar no day-by-day.
Adoro – mas cansei – da Osklen. Lindo, mas cansei. Chique, mas cansei. A Osklen é igual Fernanda Abreu, muito bom, muito bom mesmo, mas cansa. Aí também já é carioca demais.
O Oscar de melhor figurino vai para os garçons da Forneria São Paulo (em Ipanema): très sofistiquê! Calça de alfaiataria com pregas cinza mescla, pernas largas e curtas (bem em cima do tornozelo, à italiana). Camisa branca com mangas curtas, comprimento do corpo curto, abotoada até o colarinho e por baixo uma roupa de dentro: regata de malha branca. Mistura retrô-moderna que funcionou muito bem!
A regata de malha por baixo da camisa de botão é um costume de antigamente, quando o homem não devia mostrar os pelos, nem o peito através da transparência da camisa. Meu avô, sujeito elegantíssimo sem saber, usa até hoje.
Adoro a Livraria da Travessa, a galeria de fotos Tempo, café da manhã no parque Lage, missa de canto Gregoriano no mosteiro de São Bento, subir a pé o morro do Leme, pegar uma bike e ir pela ciclovia até a Praia Vermelha, a praia em frente ao Hotel Fasano perto do Arpoador, o restaurante Aprazível, a nostalgia de Copacabana, o jardim botânico, show no morro da Urca, e o melhor de tudo, você pode fazer tudo isso com a mesma roupa: shortinho, chinelo, biquíni e blusa.
E como se não fosse bom o suficiente, o carioca ainda melhora o cenário: coloca um Cristo em cima do Corcovado, aterra a Urca e o Flamengo, arboriza, planta, cuida, cultiva. Enfim, ele ama a cidade. Ele se ama.

Bianca Gadioli Cipolla

CASA GUCCI, UMA HISTÓRIA DE GLAMOUR, COBIÇA, LOUCURA E MORTE

(coluna de Moda e Comportamento publicada na Revista Público A, 5a.edição)

Um livro fascinante sobre o nascimento, crescimento, apogeu, decadência e renascimento de uma das marcas de maior prestígio e alcance da nossa época, a Gucci.
A marca Gucci, nos seus 80 e poucos anos de existência, parece ter a mesma idade e tradição que a quatrocentona Louis Vitton devido ao seu enorme prestígio, já abalado tantas vezes, é verdade, mas sempre renascido como uma phênix, para os ricos do mundo inteiro.
Ao longo de sua trajetória a Gucci se popularizou, sofreu problemas sérios com falsificação, se desgastou com a falta de coerência entre seus produtos por ser uma empresa familiar segmentada, onde cada herdeiro fazia o que queria em sua alçada, sofreu com incontáveis escândalos de família como: traições de seus sucessores, que processavam uns aos outros, falsificavam assinaturas, desviavam dinheiro, sonegavam impostos, foram presos e fugitivos e eram manchetes em todos os jornais do mundo. Mas, de uma forma indiscutível, continua sendo uma marca que remete a luxo, poder e prestígio, mesmo depois de tantos abalos sísmicos.
Eu sempre achei muito curioso como uma marca se forma e se fortalece a ponto de fazer as pessoas pagarem somas absurdas de dinheiro por artigos comuns, como bolsa, carteira, chaveiro, sapato, e por aí vai. O que acontece que faz as pessoas perderem a cabeça em função de adquirir um bem não durável, da onde vem essa necessidade, e mais intrigante ainda, como a marca consegue carregar intrinsecamente tanto valor agregado? Como essas marcas conseguem despertar tanta emoção em seus consumidores?
O produto com certeza ajuda, mas em absoluto não justifica tamanho frisson em torno dele. Prova disso: elimine a logo e o símbolo, faça com que ninguém perceba sua marca e veremos se ainda haverá pessoas dispostas a pagar aquela quantia indecente simplesmente porque o produto é tão bom assim... Claro que não.
As bolsas Gucci são maravilhosas? Seu tecido de monograma é estupendamente belo? Seus designes são tão eloqüentes assim? Claro que não. Com certeza tem uma qualidade impecável e são bonitas, mas será que justificam o preço que custam? Quem carrega a marca no ombro, ou nos pés, está procurando mostrar algo: prestígio, pertença, riqueza, nobreza, e por aí vai. A qualidade do material, a versatilidade do modelo da bolsa, a praticidade dos bolsos embutidos, é o que menos importa.
A história da Gucci começa com seu fundador, Guccio Gucci, um rapaz que sai de Florença e vai tentar ganhar a vida em um dos melhores Hotéis de Londres, o Savoi, trabalhando como contínuo, por volta de 1900. Neste período observou que as malas diferenciavam os hóspedes, e que elas eram o maior símbolo de status pra quem viajava. Alguns anos depois, de volta a Florença, vai trabalhar numa empresa de couro, onde se torna gerente e aprende tudo sobre o manuseio do produto. Alguns anos depois monta um atelier pra confecção de malas e bolsas e aluga uma lojinha numa rua estreita de sua cidade natal, já estamos em 1921.
Guccio, um homem elegante e robusto, sempre bem vestido e com um charuto na boca, sabe que precisa investir em qualidade e também no design. Investe na fabricação, experimenta novos materiais, passa por tremendas dificuldades financeiras, é socorrido pelo noivo da filha Grimalda, a mais velha. Enfim, tem uma trajetória bem parecida com essas que a gente escuta o tempo todo. Sempre teve um ótimo resultado com vendas, sempre precisou de mais produto que seu atelier conseguia entregar, mas isso não significava resultado positivo e dinheiro no bolso.
Até que seus filhos começam a entrar no negócio e Aldo, o filho do meio, começa a vislumbrar planos de expansão pra marca. Abre uma loja em Roma e em seguida leva a Gucci para a América, onde torna a marca uma verdadeira religião.
Aldo começa a sentir necessidade de caracterizar, de personalizar melhor a marca, e desenvolve a linha de monogramas (com o problema da escassez de couro na Europa, no pós-guerra, o tecido em jacquard é uma opção resistente pra bagagens, além de ser um outdoor pra marca), e começa a associar o verde e vermelho, tão usado em materiais de equitação, como marca registrada Gucci. Vem daí a fama que a família Gucci era nobre, possuía haras e criava cavalos. Nada disso, puro marketing de associação. Essa fama às vezes era alimentada e às vezes negada pelos filhos de Guccio em entrevistas pelo mundo afora.
Enfim, a história termina com a incorporação da Gucci por um grupo de investidores em marcas de luxo, e a contratação de Tom Ford pra rejuvenescer a marca e retomar seu prestígio de outrora. O neto caçula de seu fundador, Maurizzio, último presidente da empresa familiar, foi assassinado a mando de sua ex-mulher, Patrizia Reggiani, que foi condenada e até a publicação do livro ainda estava na cadeia cumprindo pena.
Mas o melhor de tudo é como essa saga se desenrola, cada passo, cada intriga e confusão. Leia, você vai adorar.

Bianca Gadioli Cipolla