quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

CASA GUCCI, UMA HISTÓRIA DE GLAMOUR, COBIÇA, LOUCURA E MORTE

(coluna de Moda e Comportamento publicada na Revista Público A, 5a.edição)

Um livro fascinante sobre o nascimento, crescimento, apogeu, decadência e renascimento de uma das marcas de maior prestígio e alcance da nossa época, a Gucci.
A marca Gucci, nos seus 80 e poucos anos de existência, parece ter a mesma idade e tradição que a quatrocentona Louis Vitton devido ao seu enorme prestígio, já abalado tantas vezes, é verdade, mas sempre renascido como uma phênix, para os ricos do mundo inteiro.
Ao longo de sua trajetória a Gucci se popularizou, sofreu problemas sérios com falsificação, se desgastou com a falta de coerência entre seus produtos por ser uma empresa familiar segmentada, onde cada herdeiro fazia o que queria em sua alçada, sofreu com incontáveis escândalos de família como: traições de seus sucessores, que processavam uns aos outros, falsificavam assinaturas, desviavam dinheiro, sonegavam impostos, foram presos e fugitivos e eram manchetes em todos os jornais do mundo. Mas, de uma forma indiscutível, continua sendo uma marca que remete a luxo, poder e prestígio, mesmo depois de tantos abalos sísmicos.
Eu sempre achei muito curioso como uma marca se forma e se fortalece a ponto de fazer as pessoas pagarem somas absurdas de dinheiro por artigos comuns, como bolsa, carteira, chaveiro, sapato, e por aí vai. O que acontece que faz as pessoas perderem a cabeça em função de adquirir um bem não durável, da onde vem essa necessidade, e mais intrigante ainda, como a marca consegue carregar intrinsecamente tanto valor agregado? Como essas marcas conseguem despertar tanta emoção em seus consumidores?
O produto com certeza ajuda, mas em absoluto não justifica tamanho frisson em torno dele. Prova disso: elimine a logo e o símbolo, faça com que ninguém perceba sua marca e veremos se ainda haverá pessoas dispostas a pagar aquela quantia indecente simplesmente porque o produto é tão bom assim... Claro que não.
As bolsas Gucci são maravilhosas? Seu tecido de monograma é estupendamente belo? Seus designes são tão eloqüentes assim? Claro que não. Com certeza tem uma qualidade impecável e são bonitas, mas será que justificam o preço que custam? Quem carrega a marca no ombro, ou nos pés, está procurando mostrar algo: prestígio, pertença, riqueza, nobreza, e por aí vai. A qualidade do material, a versatilidade do modelo da bolsa, a praticidade dos bolsos embutidos, é o que menos importa.
A história da Gucci começa com seu fundador, Guccio Gucci, um rapaz que sai de Florença e vai tentar ganhar a vida em um dos melhores Hotéis de Londres, o Savoi, trabalhando como contínuo, por volta de 1900. Neste período observou que as malas diferenciavam os hóspedes, e que elas eram o maior símbolo de status pra quem viajava. Alguns anos depois, de volta a Florença, vai trabalhar numa empresa de couro, onde se torna gerente e aprende tudo sobre o manuseio do produto. Alguns anos depois monta um atelier pra confecção de malas e bolsas e aluga uma lojinha numa rua estreita de sua cidade natal, já estamos em 1921.
Guccio, um homem elegante e robusto, sempre bem vestido e com um charuto na boca, sabe que precisa investir em qualidade e também no design. Investe na fabricação, experimenta novos materiais, passa por tremendas dificuldades financeiras, é socorrido pelo noivo da filha Grimalda, a mais velha. Enfim, tem uma trajetória bem parecida com essas que a gente escuta o tempo todo. Sempre teve um ótimo resultado com vendas, sempre precisou de mais produto que seu atelier conseguia entregar, mas isso não significava resultado positivo e dinheiro no bolso.
Até que seus filhos começam a entrar no negócio e Aldo, o filho do meio, começa a vislumbrar planos de expansão pra marca. Abre uma loja em Roma e em seguida leva a Gucci para a América, onde torna a marca uma verdadeira religião.
Aldo começa a sentir necessidade de caracterizar, de personalizar melhor a marca, e desenvolve a linha de monogramas (com o problema da escassez de couro na Europa, no pós-guerra, o tecido em jacquard é uma opção resistente pra bagagens, além de ser um outdoor pra marca), e começa a associar o verde e vermelho, tão usado em materiais de equitação, como marca registrada Gucci. Vem daí a fama que a família Gucci era nobre, possuía haras e criava cavalos. Nada disso, puro marketing de associação. Essa fama às vezes era alimentada e às vezes negada pelos filhos de Guccio em entrevistas pelo mundo afora.
Enfim, a história termina com a incorporação da Gucci por um grupo de investidores em marcas de luxo, e a contratação de Tom Ford pra rejuvenescer a marca e retomar seu prestígio de outrora. O neto caçula de seu fundador, Maurizzio, último presidente da empresa familiar, foi assassinado a mando de sua ex-mulher, Patrizia Reggiani, que foi condenada e até a publicação do livro ainda estava na cadeia cumprindo pena.
Mas o melhor de tudo é como essa saga se desenrola, cada passo, cada intriga e confusão. Leia, você vai adorar.

Bianca Gadioli Cipolla

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