(coluna de Moda e Comportamento pra Revista Público A, edição dezembro 2008)
Em Buenos Aires a moda é uma atração turística a parte. As argentinas estão agora numa nova vibe pros cabelos, passou a febre do desfiado adoidado, agora elas estão descabeladas, despenteadas, emaranhadas, e quem tem o cabelo lisinho... morra! Força nos dreads, ou no rabo de cavalo totalmente desalinhado, no lado da cabeça, tipo penteado de criança de 5 anos brincando de cabeleireira.
A saruel é farda, reina absoluta em vários formatos, tamanhos e tecidos, fazendo muito e pouco volume nos fundos, vale tudo.
O mais legal do estilo das portenhas é o despojamento natural, mas incrementado. É um jeito descolado, mas confortável de se vestir, descompromissado, do tipo que não escraviza, nem limita os movimentos. E esse conforto é muito bacana, mas é também produzido. Esse que é o lance, porque não fica desleixado.
Em Buenos pensei que o senso estético está diretamente relacionado com a educação e o nível cultural de uma pessoa. Primeiro porque você precisa ter repertório visual pra lapidar o olhar, segundo porque senso estético exige um certo refinamento. E sem educação não tem como chegar lá. Veja, nossos grandes rivais no futebol são os campeões em consumo per capta de livros da América Latina.
Nós brasileiros precisamos comer muito feijão pra alcançar o nível cultural do argentino médio, e assim o senso estético dele, pra moda e pra decoração.
...Jericoacoara é o programinha mais fashion pra quem mora no Ceará. E de longe a melhor baladinha do final de semana, mas em feriado não! Por favor! É longe, você vai me dizer... Vê-se logo que nunca passou 6 horas na fila da balsa pra ir pra Ilha Bela num final de semana qualquer e ainda correndo o risco de pegar 48 horas de chuva ininterrupta. Jeri é sim aqui do lado, e agora ainda mais, com 48 km a menos pelo trecho novo da estrada que não foi inaugurado mas já está “funcionando”.
Pois bem, a moda em Jeri chega ao ápice com aquelas européias descoladas e chiques desfilando seus óculos de sol minúsculos. Pasme! E nem adianta falar: mas é horrível óculos de sol pequeno, grande é muito mais bonito!!! Darling, você disse a mesma coisa nos anos 90 quando os óculos começaram a crescer, e tudo que sobe desce.
Nós identificávamos a nacionalidade das mulheres no Clube dos Ventos, guarderia, Jericoacoara, pelo tamanho dos óculos: gigante? Brasileira! Oclinhos? Francesa! Italiana! Sueca!!!
Falando em Clube dos Ventos, saca só, no por do sol a galera sai do mar e rola um happy hour, vc compra uma frozen caipirinha e ganha duas, o mesmo pra cerveja. Até aí nenhuma novidade, isso já rola há um tempão. O mais legal vem depois, eles colocam uns almofadões no chão, na grama, a galera vai se posicionando, e quando escurece eles armam um telão e passam um filme. Vira um cinemão, com toda aquela gente linda na grama, ao ar livre, vendo filme entre a lua e as estrelas, na beira do mar... A vida é dura mas vai melhorar!!!
Já o Reino Muitomuitodistante é governado por um imperador-ditador, que assim, meio que do nada, sem mais nem menos, dita: agora todo mundo usa óculos grande, sunga larga, sandália Havaiana, cabelo desfiado, etc. O povo protesta: mas como??? Eu acabei de comprar uns óculos pequenos, retinhos, redondos, tipo John Lenon, e gastei metade do meu ordenado porque isso é o que as pessoas usam nas ruas! E sandália havaiana não é ridícula? Isso é unanimidade. Não se usa sandália havaiana. E minha sunga asa-delta, o que eu faço com ela???
Alguns poucos, mais reaças, tentam ainda se segurar nos hábitos antigos, mas logo são excluídos das rodas, da convivência e do assunto. Até que eles sucumbem, cansados de arrancar risadas por onde passam. E as pessoas no Reino Muitomuitodistante tem o hábito de apontar o dedo e tirar péssimas conclusões a julgar pela aparência, principalmente dos que não seguem a risca o que o imperador dita.
Só sei que esse Reino é um lugar muito chato de se viver, porque todo mundo sempre acaba igual, e você nunca consegue exercer sua individualidade. Mas ser diferente custa muito caro por lá, emocionalmente falando, dá um trabalhão, de modo que as pessoas desistem, é melhor não!
Bianca Gadioli Cipolla
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